quarta-feira, 15 de junho de 2011

O fim sem começo III

Então, chegou o momento do fim. Para ela não, pois o combinado é que siga tudo igual amanhã. O próximo dia será apenas mais um como foram todos os outros. Pra ele não. Ele finalmente caiu em si: ela não é diferente das outras. As palavras, iguaiszinhas às que muitas vezes ouviu de amigos, de nem tão amigos, de amigas, de nada amigas e até do seu próprio inconsciente. Embora ele em quase todas às vezes tivesse conseguido frear os seus instintos, ele sabe que ela não pode. Pior que isto, ele se deu conta de que ela não quer. Ele sabe que não pode culpá-la, lógico, a idade é de farra, é de festa. Ele sabe que teve a oportunidade de um dia fazer igual e por pensar como ela, fez. Ele sabe também o quanto é amargo o sabor do arrependimento de ter feito tais coisas. Claro, guardadas as devidas proporções, pois neste caso, ele sabe que ela nunca chegou a sentir um décimo do que ele um dia sentiu. Inclusive, pensa nisso sem a certeza de que ela (ou com a certeza de que ela não)se arrependerá de algo um dia.
A situação de impotência é do tamanho da dor que ele sente nesse momento. Dor esta causada mais pela ingenuidade de acreditar (mais uma vez) que seria diferente, do que propriamente pela decepção que ele acredita ter tido com ela. No peito a sensação de que um deserto onde, depois de muito tempo, nascia uma flor foi novamente devastado por uma tempestade, parecida com a que havia transformado o que um dia fora uma bela floresta, no tal deserto.
Sim, as proporções são demasiadas. Não é de se estranhar, pois são poéticas. Quem por ventura vier a ler tal texto não se espante a ponto de achar que ele vai sair por ai e jogar-se na frente de um ônibus, querendo acabar com sua vida. O que o machuca mais é saber que para que algo entre eles desse certo, ele empenhou-se muito, até mais do que deveria. Tratou-a como há muito tempo não tratara ninguém, e a resposta foi quase sempre indiferença.
Amanhã é outro dia. Eles irão ver-se, como tem que ser por certo tempo daqui pra frente. A ferramenta que ele utilizou-se para isentar-se de possíveis “recaídas” é o de “relacionamento sem cobrança”. Daqui pra frente, ele sabe que a tendência é de que eles estejam cada vez mais longe. Talvez, por ventura, eles até passem mais algum tempo “juntos”. Porém, ele sabe que nada mais será igual. Ele sabe que não poderá mais ser dela, pois aprendeu durante a vida que não consegue tratar diferente, alguém que considera semelhante aos outros. Sabe que não suporta a forma como trata e é tratado por certas pessoas que passaram na sua vida e sabe também, que mesmo não gostando, vai voltar a tratar as pessoas daquela forma. Aquele cara que tem uma, duas, três ao mesmo tempo, mas que não se importa nem um pouco com nenhuma. Aquele cara que ele tanto odeia. Lógico, isto não é definitivo. A dor se vai em seguida e o vazio que ele sente será preenchido por outra pessoa que ele considere especial - que venha novamente, quem sabe, de outro lugar do país - até que mais uma vez provem o contrário, ou não. O que importa é que ele agora sabe que um sorriso no rosto pode disfarçar qualquer (reza ele que qualquer mesmo) tristeza.

“Dissestes que se tua voz
Tivesse força igual
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira...” 02

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