quinta-feira, 17 de março de 2011

Os velhos medos


"Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa. Acredito que essa moça, no fundo, gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera. Estranho é que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é? A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas? A moça.. ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar. As vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera? E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça - que não era Capitu, mas também tem olhos de ressaca - levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário... por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo."
(Caio Fernando Abreu)


Lendo esse trecho, voltei a pensar em coisas que estavam quietinhas dentro de mim,remexi em alguns sentimentos e pensamentos ; que sim podem ser reflexo de ações atuais.
Estranho analisar que tudo que posso estar fazendo pode ser por medo de algumas confissões e que essas podem ter trazido inconscientemente a tona aquilo que sempre me afasta de tudo.
Porque essa coisa de outra, substituta ou como diz Caio o tapo buracos me assusta? Não deveria eu me sentir honrada por ser um "Doce Novembro" na vida das pessoas?
São questionamentos e mais questionamentos que não tem fim,quantos mais os faço,mais sem resposta ou melhor,cheia de respostas fico,mas por não saber qual a certa,qual a verdadeira, qual a real;fico vagando achando que talvez esteja escrito: Eu, os gatos, a estante de livros, a poltrona confortavel,a garrafa de vodcka... aquela sala a meia luz. Sem crianças, sem cia, sem construção...

01
:D