quarta-feira, 29 de julho de 2009

O que queremos enxergar*.

Como de costume, Laís preparava-se para o seu banho dos finais de tarde. Sempre no mesmo horário, chegava do trabalho, cansada, jogava as roupas ao chão e entrava no banho para relaxar, depois comer alguma coisa e finalmente desfrutar de seu descanso tão justo lendo seus livros e revistas prediletos, os quais geralmente falavam sobre ciências, ou simplesmente assistindo televisão.

Perto dali, uma dona de casa típica de cidade do interior preparava o jantar de sua família. Muito prendada, fazia de tudo para agradar o marido, um homem muito bom, segundo sua definição. Tentava sempre fazer o melhor, afinal na sua idade arrumar um terceiro marido não seria nada fácil. Mesmo que o primeiro tenha sido o que foi, pelo menos lhe deu a segurança do casamento por alguns anos. Lembrava do seu relato à sua vizinha:
Ele nos obrigava a dormir cedo, contava ela, para a vizinha, que acabara de conhecer, pois chegara a pouco de outra cidade, durante dois anos, era sempre a mesma história. Oito da noite, ele ordenava a todos que fossem para a cama. Era lei na minha casa! Enquanto falava, observava a cara de espanto da vizinha. Claro, ninguém aceitava aquilo inteiramente, mas como na cultura interiorana daquela cidadezinha os homens mandavam em casa, todos eram obrigados a ceder. A mais revoltada era a filha mais velha. Esta sempre dava um jeito de escapar, ora fingia ir ao banheiro, ora simplesmente pulava a janela e saia pela madrugada a fora. A esposa nunca ousou questionar a autoridade do marido e muitas vezes, mesmo notando sua ausência durante a noite no quarto, fez-se de rogada. Certo dia, seguiu contando sua história, sem perceber que a jovem Laís (filha da vizinha) aproximara-se de repente, minha filha flagrou-o, você nem imagina... Trepando com a vizinha! Na cerca! Isto mesmo! É inacreditável, mas eles fizeram sexo na cerca durante dois anos. Aquele desgraçado e aquela minha vizinha que ainda por cima vivia pedindo coisas emprestadas lá em casa! Já se exaltava e ao notar a presença da jovem menina, baixou o tom de voz e pediu desculpas brevemente. Engolindo o choro, continuou sua história: Ainda bem, que achei o Vladimir! Nossa, esse sim é homem de verdade: honesto, trabalhador, religioso, respeitador... Um marido como sempre pedi a Deus...

Quando percebeu aquele rosto que a fitava através da janela do seu banheiro, em meio ao seu banho, Laís instintivamente lembrou-se das palavras da vizinha: honesto, trabalhador, religioso e respeitador... RELIGIOSO e RESPEITADOR!
Algumas pessoas não enxergam, ou apenas enxergam aquilo que querem ver. A realidade é esta. Só nisto e nas filhas da vizinha que regulavam com sua idade, era que Laís conseguia pensar enquanto proferia insultos a Vladimir. Será que existe gente que veio ao mundo exclusivamente para ser feita de idiota? 02 :S

*Baseado em fatos reais

2 comentários: