Seis e meia da manhã de uma segunda feira qualquer do nosso inverno rigoroso. Deveria estar contente porque eu tenho um emprego, sou o dito cidadão respeitável, já diria o bom e velho Raulzito. Porém acordar esse horário, ter que tomar banho e sair para trabalhar não é e nunca será nada fácil. Quem sabe, se fosse o emprego dos sonhos?
Até mesmo o Raul sabia que na prática nem todo cidadão respeitável é um cidadão contente e vice-versa. Muito pelo contrário. A maioria vive em depressão, tendo que trabalhar para criar filho, família, cachorro, papagaio, periquito...
Afinal, o que é mais importante, ter dinheiro ou ter felicidade? Alguns dizem que sem dinheiro não se tem felicidade; Outros que sem felicidade não se consegue dinheiro... Nossa... Isso tudo é muito confuso para mim.
Trabalhar com números, confesso, nunca foi meu sonho de infância. Lógico em primeiro lugar, assim como todo guri que se preze, sonhei ser jogador de futebol. Entrar em campo com uma torcida enorme gritando seu nome, fazer gols, ganhar fama, dinheiro... Só faltaram duas coisas básicas: O talento e o resto. Parece engraçado, mas não é. Na verdade é bem triste. Enfim, esse sonho não deve ser levado em conta, pois como já disse, é o mais comum entre os meninos.
Depois de descobrir (na verdade descobrir ser totalmente desprovido de) “talento” pra este esporte tão adorado em nosso país, as crianças como eu geralmente partem para novos sonhos. Lógico alguns insistem na utopia, mas ai só com alto índice de Q.I. (o tradicional "quem te indique") para conseguir alguma coisa nesta árdua carreira e isto agora não vem ao caso.
Passando por veterinária, juiz de futebol, ator da novelinha "Malhação", enfim, acabei caindo num caminho que nenhuma criança sonha quando pequena: Números. Ou você já viu alguma criança de dez, onze anos dizendo para seu pai que deseja ser matemático, engenheiro ou contador quando crescer? Eu nunca.
Devemos ser muito agradecidos pelas oportunidades que a vida nos dá, isto é verdade. Também é verdade que nem sempre as oportunidades que temos são as de fazer coisas que realmente nos deixam felizes, ou alguém acha que limpar banheiros - sem preconceito para com os limpadores de latrinas - já foi o sonho de alguém um dia? Porém também é verdade que sem os limpadores de privada nossa vida seria bem pior. Nem preciso explicar o porquê.
Com o tempo adquiri gosto pela escrita, até porque escrever é infinitamente mais fácil do que falar para um sujeito introspectivo como eu. Com certeza nem todo mundo é bom no que gosta de fazer, mas também é certo que tudo aquilo que fazemos com prazer flui melhor (sem malícia nenhuma). Certamente nos esforçamos ao máximo para compensar eventuais deficiências, sendo a tarefa a ser realizada realmente prazerosa. Vide eu e meu futebol, insistentemente praticado todos os finais de semana com muita vontade e quase nenhuma técnica.
Jornalista é “mato”, diz a maioria. Talvez seja, talvez não. Contudo a realidade é que aqueles que não nasceram dotados de bons recursos, infelizmente, muitas vezes precisam trilhar rumos que não são exatamente aqueles dos seus sonhos.
Alguns idealistas dirão que isso é besteira, que quem acredita sempre alcança, blá, blá, blá. Mas isso é assunto pra mais de hora e já são sete da manhã e eu estou atrasado. De novo.
Além do mais, ninguém pode saber o que acontecerá no dia de amanhã. 02 :D